sábado, 14 de agosto de 2010

Diário de Vida.

Os Momentos não tinham gosto.
Olhava para o fundo empoeirado da minha alma, não, nunca mais serei o mesmo.

As alegrias eram feitas de ébano.
Minha pena nada mais riscava, nem minhas linhas tortas nem palavras meigas.

Das boas companhias me afastava.
Pois me apegara demais às almas livres, mesmo sabendo que elas voavam alto.

Não mais sonhava.
Pois devorara minhas asas... Seguia sagrando, me arrastando pelas planícies devastadas, onde nem os pássaros cantavam mais.

Minhas expectativas viravam cinzas... Elas se espalhavam, choviam... E por dentro, eu chorava. Como se tudo fosse planejado desde o inicio só havia me restado uma triste rosa vermelha.

Da tristeza do olhar, lembrava das cartas amareladas e mentirosas, gotejadas de saudade. A saudade substituía minha sanidade, desprovida de julgamentos e promessas.

Minhas promessas quebradas, meus soluçosos devaneios, não sobraram mais do que abraços partidos. Cicatrizes abertas que para sempre sangram.

A vida dava voltas, mas sempre parava no mesmo lugar...
Guardava os desencantos naquele solitário caderno vermelho.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Lua

No escuro desestrelado só a lua brilhava; o chacoalhar das altas arvores, o uivo dos filhos da noite... Só isso nas sombras da mata escura. Sentia-me acuado pela beleza do vazio, aquele vazio tão completo, o tempo parado naquele mar de silêncio quase acolhedor. Os vultos da noite traiam o olhar e macabro era o vento da solidão, falsa solidão, tinha eu a lua de amante.

Lá, de nada valia o conhecimento, nas profundezas do pensamento, só valia o instinto, que é claro sempre te abandona... e assim morria, a luz na sombra, só versos tortos mesclados com os lamentos dos lobos, tão amados quanto o ódio dos homens.

terça-feira, 13 de julho de 2010

cego é o caminho
para o esquecimento,
assim como as linhas
que deixam a claridade e
se tornam manchas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Epilogo

As mordidas quase compulsivas no canto da boca já faziam um fino filete de sangue brotar... Era ele, doce, doce contradição, manchando as bordas de todos os copos. Manchava minhas cartas e minhas fotos, minhas lembranças e meus desejos. Tudo. Tudo vermelho. Mas não, não era isso eu queria, queria tudo pintado... Pintado de preto.

domingo, 20 de junho de 2010

No fundo, no escuro, meus pensamentos conspiravam, nutriam a indiferença ao me fazer arquitetar o próximo passo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Contos da Lareira

Tremulavam as chamas quentes, consumindo a madeira seca que reclamava ao queimar, como se ainda houvesse chance de que seus protestos fossem ouvidos. Era essa chacina que aquecia o gélido quarto em que eu me encontrava. Talvez fosse a escuridão aconchegante daquele piso de madeira antigo, sujo e já sem verniz que me deixava mais tranqüilo. Mas um gole seco do whisky diluído no copo com gelo, só para complementar o aquecimento do fogo. Nem os tragos nem as baforas resolviam mais, viviam novamente a consolar-me com seus abraços gentis, mas não me faziam esquecer... O erro de ter lembrado de acender a lareira, pois melhor seria morrer de frio.
A vida parecia fazer mais sentido quando você deixava de ser apenas um espectador, o problema é que naquele momento eu nada era, senão um corpo inerte se aquecendo nas próprias lembranças. O whisky secou, não me saciou, os cigarros acabaram, e me matavam lentamente... Porém não mais do que minha mente, ardilosa e peçonhenta... Restou-me deitar no chão frio e esperar as chamas virarem brasas, e depois virarem cinzas... Quem sabe algo melhor nascesse delas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

lagrimas / risos / a vida e a morte

Inesperado que esse momento tivesse finalmente chegado... Frio era o vento que cortava o descampado, a faca pronta para cortar a pele, a carne, as veias e tudo mais que estivesse no caminho. Posicionado na minha frente, tudo que precisava para acabar – não tão rapidamente – com aquilo. Era um doce momento aquele, mas ao contrario do que eu havia imaginado, não tocariam nem cornetas nem flautins, nem mil anjos desceriam dos céus para receber essa alma. O sangue voltou a circular, percebendo que logo seria derramado... Fazendo aquele gélido coração farinhento recomeçar suas batidas desritmadas e aceleradas.
Corta, corta, corta, a lamina furiosa cortou com precisão os pontos vitais, fazendo a banheira branca se encher de uma água quente, que mais parecia vinho... Era o cheiro da humanidade, cheiro de morte. A força foi-se embora, junto com o calor que o sangue guardava por de baixo da pele. Foi então que nossos olhos se cruzaram, eu sabia que algum dos mil anjos se preocuparia em me levar. Os olhos vermelhos varavam minha alma turva, quase como se a própria morte tivesse vindo me buscar.
O anjo nada falou, apenas andou suavemente para a minha direção e com a devida – falta de – delicadeza, mergulhou a mão no meu peito. De lá retirou o que restava de um pulsante orbe vermelho... E com os olhos na peça de carne o anjo me disse: “isso é a chave do paraíso... E eu levarei comigo”, e assim me deu as costas, deixando pra trás suas penas, levando consigo apenas a minha humanidade...
Cuspi o que restava do meu sangue enquanto via o anjo ir embora, não chorei nem me entristeci, sabia que já havia vivido muito. Sem forças para me reerguer fiquei lá... Não foi bonito, foi o oposto... Fora lindo!
Bate..... Bate..... .... Bate..... ..... ..... .Bate .................................. Parou
E era esse o fim, não havia como ser mais sincero do que dizer que nada mais importava decisões atrasadas... Mas realizadas...
E eu matei... Matei meu coração com palavras....

Morre uma vida, outra nasce.

domingo, 11 de abril de 2010

Os Anjos não matam...

O anjo me olhava com olhos tristes por de trás da franja, me olhava com seus claros olhos cor de mel... O anjo me abraçou forte, enfiando e retirando a velha faca enferrujada quantas vezes fossem necessárias para secar minhas veias. E ali fiquei... afogado num mar de dor... vendo em meus últimos suspiros seus olhos tristes se enchendo de alegria... anjos matam, matam como as palavras...

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Esperança lhe falta...

Não havia como não perceber que
O bafo quente no vidro refletia sua tristeza...
Havia lágrimas a lhe cortar o rosto
Onde outrora o riso alegre esteve a perambular.
Perdido em um mar de pensamentos
Estava eu a pensar... que as sutilezas sempre vão me procurar
.
.
.
Sem salvação, sem esperança

segunda-feira, 1 de março de 2010

O último dia de inverno

Era frio e nublado, o vento sussurrava... quase que num tom gritante, fazendo as árvores balançarem e rangerem, naquela escura estrada quase deserta. O que restava da humanidade em nossos corações foi-se acabando, até que esses se despedaçaram feito cristal.
E cada vez mais andávamos pra trás... porque a correnteza é que te carrega. A vida, nesse momento, nada mais era do que uma coleção de minutos sem fim. O tempo havia deixado de caminhar, enquanto a luz tocava sua face fria. Todas as cores foram apagando e as penas brancas flutuavam indecisas, prontas para chegar ao solo úmido. Seus cabelos sussurravam junto com o vento, conversando com ele, balançando com ele, livre como ele, e em pouco tempo tudo se havia acabado... O gosto doce do anis deixou seus lábios e assim terminou o último dia do inverno.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Gotas de Insatisfação

Lentamente o céu nubla, o dia torna-se noite... E gota a gota a água começa a escorrer do céu, como as lágrimas que mancham a pele branca, em um ato recluso de solidão de desespero, dentro das paredes de seus próprios pensamentos desordenados. As gotas, que lavam a alma, criam um caminho escuro a seguir na minha mente, nem por isso é menos relaxante ouvi-las bater na minha janela ou molhar as plantas no jardim. Talvez senti-las batendo na nossa pele, acariciando nossos rostos, alisando nossos cabelos. Senti-las descendo lentamente pelas roupas molhadas até roçar nas costas geladas, sentir o arrepio subir a espinha... Deixar de sentir, tudo e nada. O que são as gotas se não reflexos do nosso estado de espírito, a chuva é como o choro da alma...