quarta-feira, 28 de abril de 2010

lagrimas / risos / a vida e a morte

Inesperado que esse momento tivesse finalmente chegado... Frio era o vento que cortava o descampado, a faca pronta para cortar a pele, a carne, as veias e tudo mais que estivesse no caminho. Posicionado na minha frente, tudo que precisava para acabar – não tão rapidamente – com aquilo. Era um doce momento aquele, mas ao contrario do que eu havia imaginado, não tocariam nem cornetas nem flautins, nem mil anjos desceriam dos céus para receber essa alma. O sangue voltou a circular, percebendo que logo seria derramado... Fazendo aquele gélido coração farinhento recomeçar suas batidas desritmadas e aceleradas.
Corta, corta, corta, a lamina furiosa cortou com precisão os pontos vitais, fazendo a banheira branca se encher de uma água quente, que mais parecia vinho... Era o cheiro da humanidade, cheiro de morte. A força foi-se embora, junto com o calor que o sangue guardava por de baixo da pele. Foi então que nossos olhos se cruzaram, eu sabia que algum dos mil anjos se preocuparia em me levar. Os olhos vermelhos varavam minha alma turva, quase como se a própria morte tivesse vindo me buscar.
O anjo nada falou, apenas andou suavemente para a minha direção e com a devida – falta de – delicadeza, mergulhou a mão no meu peito. De lá retirou o que restava de um pulsante orbe vermelho... E com os olhos na peça de carne o anjo me disse: “isso é a chave do paraíso... E eu levarei comigo”, e assim me deu as costas, deixando pra trás suas penas, levando consigo apenas a minha humanidade...
Cuspi o que restava do meu sangue enquanto via o anjo ir embora, não chorei nem me entristeci, sabia que já havia vivido muito. Sem forças para me reerguer fiquei lá... Não foi bonito, foi o oposto... Fora lindo!
Bate..... Bate..... .... Bate..... ..... ..... .Bate .................................. Parou
E era esse o fim, não havia como ser mais sincero do que dizer que nada mais importava decisões atrasadas... Mas realizadas...
E eu matei... Matei meu coração com palavras....

Morre uma vida, outra nasce.

domingo, 11 de abril de 2010

Os Anjos não matam...

O anjo me olhava com olhos tristes por de trás da franja, me olhava com seus claros olhos cor de mel... O anjo me abraçou forte, enfiando e retirando a velha faca enferrujada quantas vezes fossem necessárias para secar minhas veias. E ali fiquei... afogado num mar de dor... vendo em meus últimos suspiros seus olhos tristes se enchendo de alegria... anjos matam, matam como as palavras...